Boletim junho 2014

Boletim de junho de 2014 do OTAL

Apresentação do Boletim do OTAL de junho de 2014

Wallace Moraes

Junho é o mês da copa no Brasil e as lutas populares foram abafadas por comemorações estimuladas pelos grandes oligopólios de comunicação de massa no país. A sensação que temos é que houve uma diminuição de toda a luta popular na região que refletiu no nosso boletim também, diminuto com relação aos anteriores.

O pesquisador Eduardo Matos relata diversas luta pontuais de trabalhadores na Argentina, destacando dois pontos: 1) a solidariedade dos trabalhadores em favor de demitidos; 2) a violência estatal contra seu povo em Buenos Aires e em Córdoba. Vale a leitura.

O boletim da pesquisadora Ana Luiza Dias mostrou a continuidade e a intensificação da luta sindical no Brasil do final de maio até o início da Copa. Foram tempos históricos da luta popular no Brasil.

O pesquisador Lúcas Bártolo confirma empiricamente, com o exemplo colombiano, a falência da democracia representativa, quando aponta que 61% do eleitorado não foi às urnas para escolher o presidente do país. Percebemos assim que a Colômbia ratifica a tendência mundial.

Boa leitura, reflexão e ação!

 

 

 

 

 

 

 

ARGENTINA

Eduardo Matos

Violência, a única resposta do Estado

Na localidade de Longchamps, parte sul da província de Buenos Aires, 150 famílias ocupavam há 50 dias terras sem uso e prédios abandonados nos limites do bairro 14 de febrero. A ocupação deste bairro começou há cinco anos e seus moradores são na grande maioria imigrantes de países vizinhos. O local não possui planejamento nem urbanização, as residências muito simples sequer contam com luz e água encanada. Em suma, o bairro e seus moradores foram esquecidos pelo governo.

O local continua se expandindo e mais famílias chegam a todo o tempo, ultrapassando os limites do bairro. Um total de 150 famílias se estabeleceu há 50 dias nos limites de 14 de febrero, iniciando uma nova ocupação, demarcando terras e tomando prédios ociosos. Seus ocupantes reclamam principalmente da falta de moradias e de resposta do governo às demandas por eles almejadas. Os moradores tem a intenção de criar no local uma creche e um restaurante comunitários.

Entretanto no dia 30 de abril, um total de 50 policiais armados com armas de bala de borracha e chumbo, escudos e cacetetes foram destacados para reprimir e expulsar os ocupantes. A repressão fez uma dezena de pessoas feridas e três apreendidas. Os moradores acusam a polícia de agir por conta própria, já que não possuíam ordens nem mandato para a desocupação. Uma outra denúncia seria sobre a utilização do terreno. Segundo os ocupantes, este seria usado em atividades ilícitas e nesse sentido a ação policial seria na verdade um “amiguismo”, como descreve um morador do bairro.

Leia mais em:

http://www.anred.org/spip.php?article7639

http://argentina.indymedia.org/news/2014/05/859802.php

 

Solidariedade de classe unifica a luta contra as demissões

Trabalhadores da fabricante de peças automotivas Gestamp Baires ocuparam na madrugada de 27 de maio as instalações da empresa localizada em Escobar a 32 quilômetros de Buenos Aires. Trabalhadores de empresas vizinhas se solidarizaram com a luta e efetuaram diversos bloqueios de vias ao redor da fabricante de autopeças. A medida de força realizada pelos trabalhadores tem por objetivo a reincorporação de 67 pessoas as quais foram despedidas de seus cargos sem qualquer justificativa. Segundo os manifestantes a empresa ganhou fortunas nos últimos anos e agora simplesmente coloca dezenas de famílias na rua sem condições de se sustentar. Os trabalhadores pediram a presença da imprensa caso houvesse qualquer tentativa de desocupação pela polícia.

Leia mais em:

http://www.anred.org/spip.php?article7797

Trabalhadores da empresa de produtos alimentícios Calsa e da petroleira Shell realizaram no dia 22 de maio um protesto, bloqueando uma ponte de acesso entre o município de Lanús e Buenos Aires. Estiveram presentes além desses trabalhadores, diversas organizações políticas, como o PTS (Partido de los Trabajadores Socialistas), e o MAS (Movimento al Socialismo). O protesto realizado teve por objetivo dar visibilidade às demissões injustificadas que vem ocorrendo recentemente.

Na empresa Calsa foram demitidos nos últimos quatro meses 56 trabalhadores. As pessoas despedidas se encontram há pelo menos um mês realizando um acampamento em protesto às demissões. A solidariedade entre os trabalhadores afetados é muito grande, visto que todos entendem que as demissões sem justificativa são um ataque direto a classe como um todo. A empresa se encontra no momento em total paralização. Depois de passar por dez demissões sem justificativa, os trabalhadores da Shell unificaram a luta com os demitidos pela Calsa. Segundo eles, os ganhos milionários das multinacionais fazem das demissões algo inexplicável.

Apesar da tranquilidade da manifestação, a polícia de Buenos Aires esteve presente com enorme aparato militar, roupas pretas, capacetes, escudos e cacetetes, equipamentos e presença os quais, no fundo reforçam o medo do Estado em relação às lutas populares.

Leia mais em:

http://www.anred.org/spip.php?article7764

 

Familiares de vítimas da violência policial marcham em Córdoba

No dia 14 de maio ocorreu na província de Córdoba uma marcha com mais de cem familiares de vítimas da polícia da província. Trata-se de um protesto contra as ações violentas as quais há anos vem exercendo as forças policiais cordobesas, principalmente contra jovens e pobres. O código de delitos existente na província (boletim 11/2013) dá a polícia poderes só vistos na ditadura, podendo prender pessoas por reunirem-se em público e por outros motivos absurdos como vadiagem.

A marcha do último dia 14 ganhou força pelas três mortes ocorridas no período de um mês, um deles barbaramente assassinado com sinais de espancamento, além de ter sido baleado com quatro tiros. Durante a marcha que parou em frente à chefia de polícia da província, um porta-voz policial emitiu um comunicado dizendo que todos os jovens foram mortos em enfrentamentos com as forças do Estado por estarem roubando. A justificativa é no mínimo assustadora, uma vez que, nesse sentido uma pessoa perde todos os direitos pelo simples fato de roubar.

Leia mais em:

http://argentina.indymedia.org/news/2014/05/860367.php

 

Dia Internacional de Ação pela Saúde das Mulheres

No dia 28 de maio se comemorou o Dia Internacional de Ação pela Saúde das Mulheres. Na cidade de Buenos Aires foi organizado um festival pela Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto Legal Seguro e Gratuito, com shows de diversas bandas e tendas com mesas de debates e materiais sobre o tema. As mulheres reivindicam os seus direitos sexuais e reprodutivos e a garantia destes pelos governos, como o acesso a métodos anticoncepcionais, educação sexual, maternidades e serviços ginecológicos gratuitos além de ter respeitada a opção de parto da mulher.

As centenas de pessoas que estiveram no evento puderam assinar o projeto pelo direito ao aborto legal seguro e gratuito, cujos objetivos principais são dar a mulher o direito de escolha sobre seu corpo e acabar com a clandestinidade dos abortos que causam milhares de mortes todos os anos.

Leia mais em:

http://crdelcomunismorevolucionario.blogspot.com.br/2014/06/un-festival-y-muchos-reclamos.html

 

BRASIL

As greves continuam

Ana Luiza de Castro Dias

Na segunda quinzena de maio e começo de junho muitas greves continuam sem um acordo e/ou rumos definidos. Profissionais do setor de transporte público com os rodoviários e metroviários, assim como os profissionais da educação pública, iniciaram ou mantiveram greves em todo país.

Os motoristas e cobradores na capital de São Paulo iniciaram uma paralisação no dia 19 de maio em protesto por melhorias salariais. Em Osasco e Diadema também houve paralização de várias linhas intermunicipais. Houve interdição de vários terminais de ônibus da capital por profissionais insatisfeitos com a proposta aprovada em assembleia pelo sindicato da categoria. No dia 26 de maio o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região julgou ilegal a greve na capital paulista.

(Leia mais em: http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/2014/05/justica-considera-abusiva-greve-dos-motoristas-de-onibus-em-sao-paulo).

Os metroviários de São Paulo permanecem em greve desde o dia 3 de junho. Após cinco reuniões com a Companhia do Metropolitano (Metrô), nenhum acordo foi firmado. Os grevistas não descartam a proposta de liberação das catracas para a população em alternativa a greve. No dia 8 de junho, a justiça também julgou ilegal a greve, estabelecendo multa de 100 mil reais pelos dias de paralisação. Segundo reportagem da Mídia Ninja, presidente do Sindicato, Altino Melo dos Prazeres, disse que a categoria não havia recebido nenhuma proposta nova do governo, “Sinceramente, isso é birra do Geraldo Alckmin. Acho que é hora do governador ser governador de verdade e negociar”. (Leia mais em: https://ninja.oximity.com/article/Greve-do-Metr%C3%B4-SP-%C3%A9-julgada-1). No dia 9, os grevistas decidiram suspender a mobilização até o dia 11. A decisão foi tomada após a Justiça do Trabalho considerar a greve ilegal e 42 funcionários serem demitidos pelo governo de São Paulo.

Em Salvador, a greve dos motoristas iniciada no dia 26 de maio durou apenas 2 dias. O acordo aprovado determina reajuste salarial de 9%, tíquete no valor de R$ 14,00 e jornada de sete horas de trabalho com intervalo de 20 minutos de pausa, além do recebimento de gratificação no período de carnaval. Em São Luís, os rodoviários estão em movimento grevista desde o dia 22 de maio. O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) do Maranhão, a pedido da prefeitura, considerou a greve ilegal, a decisão também prevê a obrigatoriedade na circulação de 70% da frota dos ônibus na cidade.

(Leia mais em http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/2014/06/trt-maranhense-declara-ilegal-a-greve-dos-rodoviarios-de-sao-luis). Em Fortaleza, os rodoviários paralisaram suas atividades no dia 2 de junho, pedindo mais segurança no trabalho após um assalto que resultou em um motorista ferido. Apesar da categoria estar atualmente em negociação pelo reajuste salarial de 18%, segundo o presidente do sindicato, a paralização foi motivada apenas pela questão da segurança nos ônibus da capital.

(Leia mais em: http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/2014/06/rodoviarios-de-fortaleza-paralisam-atividades-e-pedem-mais-seguranca).

Os professores municipais de São Paulo decidiram no dia 3 de junho terminar a greve que durou 41 dias. Os educadores aprovaram em assembleia a proposta da prefeitura, de incorporação do abono de 15,38% em três parcelas, distribuídas de maio de 2015 a novembro de 2016. No Rio de Janeiro, os profissionais da educação resolveram no dia 5 junho, continuar a greve que começou no dia 12 de maio. Apesar da pouquíssima repercussão da grande mídia, a paralisação deve continuar, pelo menos, até o dia 13. Na manhã do dia 8, os educadores do estado e município realizaram um protesto no Cristo Redentor. Com uma grande bandeira negra pediram pela negociação com o governo. Na quarta-feira dia 11 de junho, está previsto uma campanha de doação de sangue “Eu Vou Doar Meu Sangue pela Educação” e no dia 12 está marcado um ato unificado às 10 horas na Candelária, Centro do Rio de Janeiro. (Leia mais em: http://www.seperj.org.br/ver_noticia.php?cod_noticia=5460).

Pelo que pudemos observar as greves no país quase sempre estão sendo criminalizadas, ou seja, a justiça está julgando-as como ilegais ou abusivas, além de aplicar multas aos sindicatos ou organizações. Isso revela a falta de vontade para negociações, a imposição de acordos insatisfatórios e casos absurdos como demissões, no caso dos metroviários de São Paulo. O governo, respaldado pelo judiciário, garante a criminalização dos movimentos grevistas a fim de manter uma “ordem” que não afete os lucros e o funcionamento das cidades, sobretudo em períodos de Copa do mundo.

 

COLÔMBIA

Mais uma vez, abstenção é maioria nas eleições colombianas.

Lucas Bártolo

No último dia 25 de maio, 61% dos eleitores colombianos não compareceram às urnas para as eleições presidenciais. O impressionante número se soma à abstenção de 51% de quatro anos atrás e também aos mais de 40% de eleitores ausentes nas eleições legislativas de março último. O segundo turno será disputado no dia 15 de junho pelo candidato à reeleição Juan Manoel Santos (25,66%) e por Oscar Ivan Zuluaga (29,26%), candidato do ex-presidente Álvaro Uribe. A disputa que se configura entre dois candidatos de direita, com a ligeira vantagem da ala radical conservadora (sob a tutela de Uribe), reflete a majoritária rejeição pelo sistema representativo. A opção pela luta popular nas ruas já se fazia presente com maior destaque desde as grandes mobilizações do ano passado que, aliás, se fazem tão presentes hoje quanto em 2013. A possível eleição de Zuluaga retomaria a nefasta política uribista de enfrentamento armado às Farc, rompendo com as negociações de paz que vêm sendo mantidas pela atual gestão de Santos, e que ainda assim convivem com números estatísticos comparáveis às situações de guerra. No mais, o resultado das eleições não produzirá mudanças no posicionamento político do país, tampouco na orientação geral da conduta governamental, que é por si só extremamente danosa aos colombianos.

Leia mais:

http://anncol-brasil.blogspot.com.br/2014/05/o-grande-vencedor-na-colombia-foi.html

http://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2014/05/25/interna_internacional,532542/oposicao-vence-primeiro-turno-das-eleicoes-na-colombia.shtml

 

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