O AMOR ACABOU: A GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO E O PT

Wallace dos Santos de Moraes[1]

Agosto de 2012, durante a greve docente

O partido dos trabalhadores surgiu no final da década de 1970, colaborou sobremaneira para a derrubada da ditadura civil-militar e ainda serviu como instrumento de luta da classe trabalhadora. A CUT fora o braço sindical do partido e teve como sua base, dentre outros, dois principais polos: o ABC paulista e o funcionalismo público.

Enquanto o PT não ocupou o poder, esteve ao lado das demandas dos trabalhadores, defendendo a luta direta econômica (greves, reivindicações por salários etc.) juntamente com a luta política (eleições). Assim, na década de 1980, os trabalhadores conquistaram uma série de direitos. A Constituição de 1988 foi a maior expressão destas conquistas. O funcionalismo público foi o setor mais favorecido, sobretudo pela garantia da estabilidade. Esse fenômeno só foi possível por alguns motivos: 1) a força reivindicativa e a disposição para sustentar greves; 2) o PT e a CUT foram instrumentos importantes de organização da luta; 3) o setor empresarial, deveras organizado, conseguiu obstar o avanço de direitos para os trabalhadores do setor privado, mas não foi tão enfático contra o setor público, por questões óbvias.

Com efeito, servidores públicos e PT estiveram lado a lado nas lutas. Inclusive, vários quadros do partido saíram do funcionalismo. O namoro apaixonado e intenso durou até a chegada do partido ao poder Executivo nacional. As carícias e os beijos resultaram num casamento que parecia eterno. A lua de mel durou até meados do primeiro mandato do partido, quando, até então, a expectativa era muito grande. Para determinados setores e militantes, Lula chegara aostatus de Messias, era o grande herói do funcionalismo. Entretanto, desde antes de chegar ao poder, o PT tinha um amante: era a classe dos banqueiros. Suspeitava-se, mas ninguém confirmava com exatidão, pois os encontros aconteciam na calada da noite.

No segundo mandato, o ceticismo ganhava espaço e o mito do herói foi se desfazendo aos poucos. Todavia, as opções eleitorais “viáveis” eram Lula ou o PSDB. A partir destas, o funcionalismo ainda escolhia o PT. Entretanto, a esperança virara decepção. A reforma de previdência foi um grande golpe. Entretanto, muitos permaneceram casados por comodismo. As carícias acabaram e o amor não acontecia mais. O governo passou a flertar também com os pobres e miseráveis, comprando o seu amor com bolsas-esmolas, enquanto permanecia amando intensamente os banqueiros. Assim, não tinha mais tempo para o funcionalismo. Destarte, o PT dava uma “rapidinha” com os pobres e gastava noites inteiras em orgias com os banqueiros, especuladores, rolagem da dívida, donos de universidades privadas, grandes empresários, rede de televisões e outros. Um verdadeiro bacanal, na qual apenas o povo era estuprado, sem sentir qualquer prazer.

Com a chegada de Dilma ao poder, o funcionalismo, completamente esquecido, pede a separação. Depois de 10 anos de paralisia, sendo traído cotidianamente, um contingente significativo dos trabalhadores do Estado entra em greve e volta a ocupar as ruas e praças do país. Os funcionários públicos não aceitam mais as propostas de “aguardar que o governo vai atender nossas reivindicações.” O funcionalismo foi à luta. O governo, como todo governo, não atende as demandas em função dos seus compromissos com setores das elites. Por conseguinte, o PT perde uma das suas principais bases de militância. Trata-se de um momento histórico. O casamento acaba definitivamente depois de 30 anos.

O funcionalismo acordou e agora precisa saber escolher seus novos parceiros. A luta direta econômica sempre foi fiel, na tristeza e na dor, na felicidade e no amor. Com certeza, com ela não há traição, pois não se vende por nada e ainda concede altivez para o seu parceiro, ganhando ou perdendo, mas lutando sempre. A greve sempre será a principal arma dos trabalhadores, e sua melhor companheira, contra as traições e os abusos do Estado e do capital!

 

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